quarta-feira, outubro 01, 2008

Minha aldeia é todo o mundo e todo o mundo me pertence. Aqui me encontro e confundo com gente de todo mundo, diz com orgulho António Gedeão.


Minha aldeia

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.

António Gedeão

(1906-1997)

Mais sobre António Gedeão em

http://pt.wikipedia.org/wiki/R%C3%B3mulo_de_Carvalho

Um comentário:

maria disse...

IMPRESSIONANTE COMO ELE É ATUAL, PARECE FALAR DEST ALDEIA GLOBAL EM QUE SE TRANSFORMOUO MUNDO!