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terça-feira, maio 14, 2013

Nuno Júdice diz ao seu amor que sonhou com ela. Mas o poeta sabe que nenhum sonho pode ter habitantes.


Sonhei contigo

Sonhei contigo
embora nenhum sonho possa ter habitantes
tu, a quem chamo amor,
cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção
a esta palavra.

É verdade
o sonho poderá ter feito com que,
nesta rarefacção de ambos,
a tua presença se impusesse
como se cada gesto do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus lábios
com o rebordo desta chávena de café já frio…

Então, bebo-o de um trago.
o mesmo se pode fazer ao amor,
quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço
-terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência das fontes.

É isto, porém, que faz com que a solidão
não seja mais do que um lugar comum
saber que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me responda
quando, uma vez mais te chamo.

Nuno Júdice
(1949)

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_J%C3%BAdice

segunda-feira, junho 11, 2012

Para Nuno Júdice, podíamos saber um pouco mais da morte, da vida e do amor. Mas não seria isso que nos faria descobrir que nada sabemos do amor.



Princípios

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice
(1949)

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sábado, março 24, 2012

Queria dizer-te uma coisa doce: a tua ausência dói-me. É quando a tua voz me chama de dentro de mim, de Nuno Júdice para a mulher amada..


Ausência

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma, mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz à tua memória; e a
Realidade aproxima-te de ti, agora que
Os dias que correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

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sábado, julho 23, 2011

Nos versos de Nuno Júdice, a mulher que acorda pede à noite que não a deixe sozinha. Como se o abraço antigo se pudesse prolongar, ou o sol não troxesse o dia para junto dela.


Ausência

A mulher deitada, a mulher que se perdeu,
durante o sonho, e não sabe que o caminho
estava indicado nos seus olhos, procura o vazio
com a mão segura entre lençol e cobertor,
como se nesse intervalo houvesse ainda
uma saída para o desejo. No sono em que
a maré da noite se desfez num impulso
de névoa, os seus lábios murmuraram
o nome que não tem corpo; e em vão
esperaram o beijo que os iria selar,
os dedos que se afundariam no oceano
dos cabelos, a respiração que
lhe daria o ritmo da manhã. Por isso,
a mulher que acorda pede à noite que não
a deixe sozinha, como se o abraço antigo
se pudesse prolongar, ou o sol
não trouxesse o dia para junto dela.

Nuno Júdice
(1949)

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quarta-feira, junho 01, 2011

O espelho enche-se com a tua imagem, mas sem ti o espelho fica vazio. E nele tenho que olhar o rosto que procuro, diz Nuno Júdice à mulher de sua vida.



Olhando –se

O espelho enche-se com a tua
imagem; e queria tirá-lo da tua
mão, e levá-lo comigo, para
que o teu rosto me acompanhe
onde quer que eu vá.

Mas sem ti, o espelho
fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
apenas o lugar onde estiveste, e
os olhos que os meus olhos procuram
quando não sei onde estás.

Por que não fechas os olhos
para que o espelho te prenda, e
outros olhos te possam guardar,
para sempre, sem que tenham de olhar,
no espelho, o rosto que eu procuro?

Nuno Júdice
(1949)

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terça-feira, maio 03, 2011

Ela pediu um poema em que o amor se exprima, tudo resumindo em palavras. E Nuno Júdice pergunta: mas o que fica nas palavras daquilo que se viveu?


Amor

Um poema, dizes, em que
o amor se exprima, tudo
resumindo em palavras.

Mas o que fica
nas palavras
daquilo que se viveu?

Um pó de sílabas,
o ritmo pobre da
gramática, rimas sem nexo...

Nuno Júdice
(1949)

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quarta-feira, janeiro 12, 2011

Gosto das mulheres que envelhecem, confessa Nuno Júdice em seus versos. Elas dizem baixo, por vezes, essa elegia que só os seus lábios podem cantar.


Gosto das mulheres que envelhecem

Gosto das
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.

Nuno Júdice

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sexta-feira, outubro 08, 2010

Nuno Júdice até sabe, mas como dizer que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca se poderá ter, e ter o que está condenado a perder-se?



Poema

Podemos falar dos sentimentos, descrever
as impressões que nos ameaçam, e revelar o vazio
que se descobre na ausência um do outro: nada,
porém, é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma. É verdade que o amor não é
apenas um registo de memórias. É no presente
que temos de o encontrar: aí, onde a tua imagem
se tornou mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua. Então, é
porque as palavras são supérfluas; mas como viver
sem elas? Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha, dar o que nunca
se poderá ter, e ter o que está condenado
a perder-se? A não ser que guardemos dentro de nós,
num canto de um e outro a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence é
tudo o que cabe neste sentimento.

Nuno Júdice


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terça-feira, maio 04, 2010

Ouço bater o teu coração nesta manhã. E o dia de hoje é o dia que desejas, diz em versos Nuno Júdice à mulher amada.


Amanhecer


Ouço bater o teu coração nesta manhã
em que uma luz de argila constrói o busto
do tempo, que um dia descobrirás dentro
de ti, e onde irás reconhecer um rosto
outrora amado. Mas não esperes; o dia de hoje é
o dia que desejas, e não é todas as manhãs
que esta luz te abraça com o seu fulgor
de ave, convidando-te a partir até ao fim
da terra. Não precisas de levar contigo
mais do que o sorriso que se abriu
no instante em que o sol nasceu; e
poderás enchê-lo com as palavras que
tantas vezes esboçaste, sem as dizer,
e agora fazem parte dos teus lábios
como a flor, que pertencia ao caule de onde
a cortei, para a deixar na mesa
que ficará vazia.

Nuno Júdice

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segunda-feira, abril 19, 2010

Há mil e cem anos de poesia num só dia. Quando abro o livro do teu corpo, provo mil e cem receitas num só amor, diz Nuno Júdice à mulher da sua vida.


Epigrama gastronómico


Há mil e cem anos
de poesia num só dia,
mil e cem palavras
numa só sílaba,
mil e cem páginas
numa linha

- quando abro o livro
do teu corpo, e provo mil
e cem receitas num só
amor.

Há mil e cem anos
de poesia num só dia,
mil e cem palavras
numa só sílaba,
mil e cem páginas
numa linha

- quando abro o livro
do teu corpo, e provo mil
e cem receitas num só
amor.

Nuno Júdice

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quarta-feira, janeiro 27, 2010

Dizer o que é o amor sem o dizer, tirar um poema que te cante. Saber o que és, dizer o teu corpo, nos versos apaixonados de Nuno Júdice.


Retrato com véu


Saber o que és, dizer o teu corpo,
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;

e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;

tocar-te os lábios num fim de verso,
ver-te hesitar entre sorriso e mágoa,
perguntar se o teu rosto tem reverso,

e ter nele uma transparência de água:
é o que vejo em ti no cair de véu
em que me dás a terra que vale o céu.


Nuno Júdice

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terça-feira, dezembro 01, 2009

Nuno Júdice procura um adjetivo para cobrir o corpo de sua amada. Para que apenas lhe cubra o adjetivo que a veste, nua, nos braços que a procuram.


Mulher nua


Procuro um adjectivo para cobrir
o teu corpo, belo como o lençol da madrugada,
e lento como o teu abrir de pálpebras
no instante de acordar. Vou buscá-lo
a um armário de sinónimos, por entre
as palavras redondas do amor. Toco
os teus lábios com as suas sílabas,
sentindo a branca humidade da noite
no leve murmúrio em que pousam
os meus olhos. E vou descobrindo a luz
das palavras que tiro de cima de ti, para
que apenas te cubra o adjectivo
que te veste, nua, nos braços
que te procuram.

Nuno Júdice

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quarta-feira, setembro 16, 2009

Nuno Júdice entra no quarto daquela mulher como se entrasse no mar. E um temporal de perguntas enrola os cabelos dela.


Distância


Entro no teu quarto como se
entrasse no mar. Um temporal de perguntas
enrola os teus cabelos. Lanças-te
contra as ondas de um sonho antigo,
e abres a porta da varanda
para te sentares à cadeira
do oriente, apanhando o vento
da tarde. "Não te levantes, digo,
e deixe que os teus olhos se libertem
de sombra, depois de uma noite
de amor, para me abrigarem
da luz estéril da madrugada". Mudas
de posição, como se me tivesses
ouvido; e o teu corpo enche-se
de palavras, como se fosses
a taça da estrofe.


Nuno Júdice

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segunda-feira, agosto 17, 2009

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. É quando a tua voz me chama de dentro de mim, diz Nuno Júdice à mulher amada.


Ausência


Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma, mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz à tua memória; e a
Realidade aproxima-te de ti, agora que
Os dias que correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

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sexta-feira, maio 22, 2009

Por que ela se despe? Por que ela se veste? Nuno Júdice não entende aquela mulher, mas se disser que não a quer, ele confessará que está mentindo.


Ninfa apanhada no bosque


Por que se despe? Ou por
que se veste? Entre um e outro
movimento, é o corpo que
se oferece. A quem? Para
quê? Não se sabe quem
a merece: fauno à deriva
em campos sem ninguém,
ou amante perdido
à sua mercê. É para ti
que ela olha? Ou para
mim, que a pinto? No seu
pedaço de campo, talvez
me acolha; e se disser
que não a quero, minto.

Nuno Júdice

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sábado, abril 25, 2009

Nuno Júdice sabe que é preciso viver cada domingo como se fosse o primeiro. Para que o toque dos sinos não dobre por quem não sabe que é domingo.


Domingo no campo


Aos domingos, quando os sinos tocam
de manhã, o que neles se toca é a manhã,
e todas as manhãs que nessa manhã
se juntam, com os dias da infância que
nunca mais acabavam, as casas da aldeia
de portas abertas para quem passava,
as ruas de terra batida onde as carroças
traziam as coisas do campo, os cães que
corriam atrás delas, uma crença no sol
que parecia ter expulso todas as nuvens
do céu, e a eternidade desses domingos
que ficaram na memória, com o ressoar
dos sinos pelos campos para que todos
soubessem que era domingo, e não havia
domingo sem os sinos tocarem a lembrar,
a cada badalada, que os domingos não
são eternos, e que é preciso viver cada
domingo como se fosse o primeiro, para
que o toque dos sinos não dobre por
quem não sabe que é domingo.

Nuno Júdice

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quinta-feira, março 19, 2009

O que fica nas palavras daquilo que se viveu? Para Nuno Júdice, um pó de sílabas, o ritmo pobre da gramática, rimas sem nexo...


Amor


Um poema, dizes, em que
o amor se exprima, tudo
resumindo em palavras.

Mas o que fica
nas palavras
daquilo que se viveu?

Um pó de sílabas,
o ritmo pobre da
gramática, rimas sem nexo...

Nuno Júdice

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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Uma moeda sem cara nem coroa, um laço nos cabelos e um murmúrio esquecido numa noite. É tudo o que pede Nuno Júdice ao seu amor.


Pedido


O que te peço:

uma moeda contra o vazio do coração,
sem cara nem coroa, valendo apenas
a brancura do teu corpo;

um laço nos cabelos, a prender
o fruto da tua alma que amadurece
nos meus olhos;

o murmúrio que esqueceste,
uma noite, num fundo de almofada,
e ainda voa na minha memória.

Nuno Júdice

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segunda-feira, dezembro 22, 2008

Filosofando, pergunta Nuno Júdice, mas o que queremos da vida? E, depois de muitos questiomentos, volta a perguntar: que outra coisa queremos da vida?


Filosofia


Mas que queremos da vida? É a vida? O
que se procura em cada segundo para se perder
em cada segundo? O tempo, assim, de nada
nos serve. Um dia, dando por nós próprios,
perguntamo-nos o que fizemos, por onde
andámos, que cidades e casas percorremos,
sem que nenhuma resposta nos satisfaça. A
vida, então, limita-se a ser o que fez
de nós, sem que o tenhamos desejado, e
nada pode ser feito para voltar atrás, nem
para restituir os passos trocados de
direcção, as frases evitadas no último
extremo, o olhar que se desviou quando
não devia. Ah, sim - e o amor? É isso
que queremos da vida? É verdade: cada um
dos abraços que se deram, contando cada
instante; o rosto lembrado no auge
do prazer, quando um súbito sol desponta
dos seus lábios; os cabelos presos
nas mãos, como se elas prendessem o feixe
da eternidade... Assim, a vida poderá
ter valido a pena. É o que fica: o que
nos foi dado e o que damos, sem que nada
nos obrigasse a dar ou a receber, o puro
gesto do acaso na mais absoluta das
obrigações. Então, volto a perguntar: que
outra coisa queremos da vida?


Nuno Júdice

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terça-feira, setembro 16, 2008

Depois de uma noite de amor, Nuno Júdice diz lindos versos à sua amada. E o corpo dela enche-se de palavras, como se ela fosse a taça da estrofe.


Distância


Entro no teu quarto, como se
entrasse no mar. Um temporal de perguntas
enrola os teus cabelos. Lanças-te
contra as ondas de um sonho antigo,
e abres a porta da varanda
para te sentares à cadeira
do oriente, apanhando o vento
da tarde. «Não te levantes, digo,
e deixa que os teus olhos se libertem
de sombra, depois de uma noite
de amor, para me abrigarem
da luz estéril da madrugada.» Mudas
de posição, como se me tivesses
ouvido; e o teu corpo enche-se
de palavras, como se fosses

a taça da estrofe.


Nuno Júdice


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