domingo, outubro 12, 2008
Dei tudo que era meu, fiquei apenas com o que tem de toda a gente em mim. E me sinto maior, igual aos homens iguais, diz Mário de Andrade.
Aspiração
Doçura da pobreza assim...
Perder tudo que é seu, até o egoísmo de ser seu,
Tão pobre que possa apenas concorrer pra multidão...
Dei tudo que era meu, me gastei no meu ser,
Fiquei apenas com o que tem de toda a gente em mim...
Doçura da pobreza assim...
Nem me sinto mais só,
dissolvido nos homens iguais!
Eu caminhei. Ao longo do caminho,
Ficava no chão orvalhado da aurora,
A marca empreoda dos meus passos.
Depois o Sol subiu, o calor vibrou no ar
Em partículas de luz doirando e sopro quente.
O chão queimou-se e endureceu.
Sinal dos meus pés é invisível agora...
Mas sobra a Terra, a Terra carinhosamente muda,
E crescendo, penando, finando na Terra,
Os homens sempre iguais...
E me sinto maior, igualando-me aos homens iguais!...
Mário de Andrade
(1893-1945)
Mais sobre Mário de Andrade em
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