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quarta-feira, julho 22, 2015
Para Camões, os bons ele sempre viu passar graves tormentos. Mas para ele, que foi mau e foi castigado, o mundo andava concertado.
Aos desconcertos do mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís Vaz de Camões
(1524-1580)
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quinta-feira, julho 02, 2015
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança, já dizia Camões em seus versos.
Mudam-se os tempos
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía*.
Luiz Vaz de Camões
(1524-1580)
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terça-feira, junho 16, 2015
Erros meus, má fortuna, amor ardente. As magoadas iras ensinaram Camões a não querer já nunca ser contente.
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
Luis Vaz de Camões
(1524-1580)
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quarta-feira, junho 03, 2015
Amor é um não sei quê, que nasce não sei onde. E vem não sei como e dói não sei porquê, confessa em versos sofridos Luís de Camões.
Busque Amor novas artes
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
Luis Vaz de Camões
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sábado, março 22, 2014
Aquela cativa é a mulher que tem Camões cativo. Nela ele vive, é força que viva.
Aquela cativa
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas,
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a minha cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Luis Vaz de Camões
(1524-1580)
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domingo, novembro 24, 2013
Luís Vaz de Camões discorda de quem diz que amor é falso ou enganoso. Para ele, amor é brando, doce e piedoso.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Luís Vaz de Camões
(1524-1580)
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quinta-feira, julho 25, 2013
Quando se vir com água o fogo arder e o Amor por Razão mandado ser, não se espere de mim deixar de ver-vos. Nos versos de Camões, toda a esperança na mulher amada.
Quando se vir com água o fogo arder
Quando se vir com água o fogo arder
e misturar com dia a noite escura,
e a terra se vir naquela altura
em que se vêem os Céus prevalecer;
O Amor por Razão mandado ser,
e a todos ser igual nossa ventura,
com tal mudança, vossa fermosura
então a poderei deixar de ver.
Porém não sendo vista esta mudança
no mundo (como claro está não ver-se),
não se espere de mim deixar de ver-vos.
Que basta estar em vós minha esperança,
o ganho de minh' alma e o perder-se,
para não deixar nunca de querer-vos.
Luis Vaz de Camões
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terça-feira, junho 25, 2013
Aquele mover de olhos excelente inflamou o coração de Camões dum doce engano. E apesar da causa lhe esforçar o sofrimento, a razão lhe faz a pena alegre ou triste.
Aquele mover de olhos excelente
Aquele mover de olhos excelente,
aquele vivo espírito inflamado
do cristalino rosto transparente;
aquele gesto imoto e repousado,
que, estando na alma propriamente escrito,
não pode ser em verso trasladado;
aquele parecer, que é infinito
para se compreender de engenho humano,
o qual ofendo enquanto tenho dito,
me inflama o coração dum doce engano.
me enleva e engrandece a fantasia,
que não vi maior glória que meu dano.
Oh, bem-aventurado seja o dia
em que tomei tão doce pensamento,
que de todos os outros me desvia!
E bem-aventurado o sofrimento
que soube ser capaz de tanta pena,
vendo que o foi da causa o entendimento!
Faça-me, quem me mata, o mal que ordena;
trate-me com enganos, desamores;
que então me salva, quando me condena.
E se de tão suaves disfavores
penando vive üa alma consumida,
oh! que doce penar! que doces dores!
E se üa condição endurecida
também me nega a morte, por meu dano,
oh! que doce morrer! que doce vida!
E se me mostra um gesto brando e humano,
como quem de meu mal culpada se acha,
oh! que doce mentir! que doce engano!
E se em querer-lhe tanto ponho tacha,
mostrando refrear o pensamento,
oh! que doce fingir! que doce cacha!
Assim que ponho já no sofrimento
a parte principal de minha glória,
tomando por milhor todo o tormento.
Se sinto tanto bem só na memória
de vos ver, linda Dama, vencedora,
que quero eu mais que ser vossa a vitória?
Se tanto vossa vista mais namora
quanto eu sou menos para merecer-vos,
que quero eu mais que ter-vos por senhora?
Se procede este bem de conhecer-vos
e consiste o vencer em ser vencido,
que quero eu mais, Senhora, que querer-vos?
Se em meu proveito faz qualquer partido,
só na vista duns olhos tão serenos,
que quero eu mais ganhar que ser perdido?
Se meus baixos espritos, de pequenos,
ainda não merecem seu tormento,
que quero eu mais, que o mais não seja menos?
A causa, enfim, me esforça o sofrimento,
porque, apesar do mal, que me resiste,
de todos os trabalhos me contento;
que a razão faz a pena alegre ou triste.
Luis Vaz de Camões
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quinta-feira, junho 13, 2013
Erros meus, má fortuna, amor ardente. As magoadas iras ensinaram Camões a não querer já nunca ser contente.
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!
Luis Vaz de Camões
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terça-feira, maio 28, 2013
Camões diz que a vida já passou assaz contente. Quando ele tinha livre a vontade e o pensamento, sem receios de Amor nem da Ventura.
A vida já passei assaz contente
A vida já passei assaz contente;
livre tinha a vontade e o pensamento,
sem receios de Amor nem da Ventura.
Mas isto foi um bem de um só momento,
e à minha custa vejo claramente
que a vida não dá algum de muita dura.
No tempo em que eu vivia mais segura
de Amor e seu cuidado,
por me ver num estado
em que eu cuidei que Amor não tinha parte;
não sinto por qual arte
me vejo entregue a ele de tal sorte
que enquanto tarda a morte,
a esperança do bem tenho perdida.
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Quantas vezes eu triste aqui ouvia
o meu Felício, e outros mil pastores,
queixar-se em vão de minha crueldade!
E mais surda então eu a seus clamores
que áspide surda, ou surda penedia,
julgava os seus amores por vaidade.
Agora, em pago disto, a liberdade,
a vontade e o desejo
de todo entregue vejo
a quem, inda que brade, não responde
pois vejo que se esconde
já debaixo da terra este que eu chamo,
que é aquele a quem amo;
aquele a quem agora estou rendida.
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Que glória, Amor cruel, com meu tormento,
que louvor a teu nome acrescentaste?
Ou que te constrangeu a tal crueza,
que com tal pressa esta alma sujeitasse
a um mal, onde não basta o sofrimento?
Mas se, Amor, és cruel de natureza,
bastava usar comigo da aspereza
que usas com outra gente.
Mas tu, como semente
de ver-me estar morrendo te contentas,
quando mais me atormentas,
então desejas mais de atormentar-me;
e não queres matar-me
por que este mal de mi se não despida.
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Onde cousa acharei que alegre veja?
A quem chamarei já que me responda?
Quem me dará remédio à dor presente?
Não há bem, que de mi já não se esconda;
nem algum verei já, que a mi o seja,
porque está quem o foi da vida ausente.
Eu alguma não vi tão descontente,
que Amor tão mal tratasse,
que inda não esperasse
a seus males remédio achar vivendo.
Eu só vivo sofrendo
um mal tão grave e tão desesperado,
que tanto é mais pesado
quanto a vida com ele é mais comprida.
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Suaves águas, pura penedia,
arvoredo sombrio, verde prado,
donde eu já tive livre o pensamento;
frescas flores, e vós, meu manso gado,
que já me acompanhastes na alegria,
não me deixeis agora no tormento.
Se do mal meu vos toca sentimento,
dai-me para ele ajuda,
que eu tenho a língua muda,
o alento me vai já desamparando.
Mas quando – ai triste! – quando
de um dia uma hora me virá contente,
que eu te veja presente,
pastor meu, e contigo esta alma unida?
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Mas não sei se é sobrado atrevimento
querer-se esta alma minha unir contigo,
pois dela foste já tão desprezado.
Amor me livrará deste perigo;
que, despois que lá vires meu tormento,
creio que te haverás por bem vingado.
E se inda em ti durar o amor passado
e aquela fé tão pura,
eu estou bem segura
que hás lá de receber-me brandamente.
Aprenda em mi a gente
quão cara uma isenção com Amor custa.
A pena dá bem justa
a uma alma que lhe é pouco agradecida.
Ai, quão devagar passa a triste vida!
Luis Vaz de Camões
(1524-1580)
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quinta-feira, outubro 25, 2012
Luís Vaz de Camões discorda de quem diz que amor é falso ou enganoso. Para ele, amor é brando, doce e piedoso.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.
Luís Vaz de Camões
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quinta-feira, setembro 20, 2012
Aquele triste e leda madrugada é cheia toda de mágoa e de piedade. Mas enquanto houver no mundo saudade, Camões quer que ela seja sempre lembrada.
Aquela triste e leda madrugada
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só quando, amena e marchetada,
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se d’ua outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que duns e doutros olhos derivadas,
S’acrescentaram em grande e largo rio;
Ela viu as palavras magoadas,
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
Luis Vaz de Camões
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quinta-feira, fevereiro 23, 2012
Aquela cativa é a mulher que tem Camões cativo. Nela ele vive, é força que viva.
Aquela cativa
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas,
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a minha cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas,
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a minha cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Luis Vaz de Camões
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sexta-feira, agosto 05, 2011
Luis Vaz de Camões diz à Senhora que Deus não quer que ela seja ingrata. E que não deseja sofrer esta pena rigorosa que o valor dela lhe obriga.
Tão crua Ninfa, nem tão fugitiva
Tão crua Ninfa, nem tão fugitiva,
com lindo pé pisou
a verde erva, nem colheu as brancas flores,
soltando seus cabelos d'ouro fino
ao vento que em mil doces nós os olhos ata,
nem tão linda, discreta e tão fermosa
como esta minha imiga.
Aquilo que em pessoa hoje viva
no mundo não se achou,
quis nela a Natureza, seus primores
mostrando, que se achasse de contino:
castidade e beleza; üa me mata,
a outra, de suave e deleitosa,
me faz doce a fadiga.
Mas esta bela fera, tão esquiva,
que o prazer me roubou,
quis-mo pagar seus únicos louvores,
cantando eu num estilo dela indino;
porque, se de louvor tão alto trata,
não sei eu tão baixo verso e prosa
que escreva nem que diga.
Aquela luz que a do Sol claro priva,
e a minha me cegou;
aquele mover de olhos, minhas dores
causando do olhar manso e divino;
o doce rir, que esta alma desbarata,
faz a sua pena desejosa
e de seu mal amiga.
Dos belos olhos veio a a flama viva
que n'alma se ateou
com a lenha de vossos disfavores,
queimando dentro o coração mofino,
cujo fim, por mor dano, se dilata
com a esperança falsa e duvidosa
que forçado é que siga.
Minha
ou vossa vendo-se cativa
quem Deus livre criou,
se aqueixa desses olhos roubadores,
culpando ao claro raio peregrino;
mas logo a luz suave, que a resgata,
de vossa linda vista graciosa
a faz que se desdiga.
quem Deus livre criou,
se aqueixa desses olhos roubadores,
culpando ao claro raio peregrino;
mas logo a luz suave, que a resgata,
de vossa linda vista graciosa
a faz que se desdiga.
Nenhüa
que no mundo humana viva,
que o Criador formou
por milagre maior entre os maiores,
formou um feito de tal Feitor dino;
Deus não quer que sejais, Senhora, ingrata,
mas que ajudeis üa alma desditosa
que em vós servir periga:
que o Criador formou
por milagre maior entre os maiores,
formou um feito de tal Feitor dino;
Deus não quer que sejais, Senhora, ingrata,
mas que ajudeis üa alma desditosa
que em vós servir periga:
a
sofrer esta pena rigorosa
vosso valor me obriga.
vosso valor me obriga.
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sexta-feira, abril 29, 2011
A Camões, o amor da Senhora parecia preço honesto. Tanto que, quanto mais lhe pagava, mais lhe devia.
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder de vista só em vê-los,
Já não o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.
Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.
Luis Vaz de Camões
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sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Amor é um não sei quê, que nasce não sei onde. E vem não sei como e dói não sei porquê, confessa em versos sofridos Luís de Camões.
Busque Amor novas artes
Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê;
Luís Vaz de Camões
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terça-feira, agosto 24, 2010
Ah, as doces lembranças da passada glória. Por elas, Camões também desejava tornar a nascer.
Doces lembranças da passada glória
Que me tirou Fortuna roubadora,
Deixai-me repousar em paz uma hora,
Que comigo ganhais pouca vitória.
Impressa tenho n'alma larga história
Deste passado bem que nunca fora;
Ou fora, e não passara; mas já agora
Em mim não pode haver mais que a memória.
Vivo em lembranças, mouro d'esquecido,
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tão contente.
Oh! quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente.
Luiz Vaz de Camões
(1524-1580)
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domingo, fevereiro 28, 2010
O que dará ao poeta a senhora cujos olhos competem com o sol em beleza e claridade? Com o desprezo, ela já lhe dá vida.
Vossos olhos, senhora, que competem
Vossos olhos, senhora, que competem
com o sol em beleza e claridade,
enchem os meus de tal suavidade,
que em lágrimas de vê-los se derretem.
Meus sentidos prostrados se submetem
assim cegos de tanta majestade;
e da triste prisão, da escuridade,
cheios de medo, por fugir, remetem.
Porém se então me vedes com acerto,
esse áspero desprezo com que olhais
me torna a animar a alma enfraquecida.
Oh, gentil cura! Oh, estranho desconcerto!
Que dareis co'um favor que vós não dais,
quando com um desprezo me dais vida?
Luís Vaz de Camões
(1524-1580)
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sábado, dezembro 19, 2009
Tanto Camões de seu estado se acha incerto que em vivo ardor está tremendo de frio. E se alguém lhe pergunta porque assim anda, só ele sabe o por quê.
Tanto de meu estado me acho incerto
Tanto de meu estado me acho incerto
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, justamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Luís Vaz de Camões
(1520-1584)
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sábado, outubro 17, 2009
Há mais de 500 anos, Luiz Vaz de Camões já sabia que novos casos de amor, novos enganos. Promessas falsas e escondidas que cumprem grandes danos.
Novos casos de Amor, novos enganos
Novos casos de Amor, novos enganos,
envoltos em lisonjas conhecidas,
do bem promessas falsas e escondidas,
onde do mal se cumprem grandes danos:
como não tomais já por desenganos
tantos ais, tantas lágrimas perdidas,
pois em a vida não basta nem mil vidas
a tantos dias tristes, tantos anos?
Um novo coração mister havia
com outros olhos menos agravados
para tornar a crer o que eu não cria.
Andais comigo, enganos, enganados;
e se o quizerdes ver, cuidai um dia
o que se diz dos bem acutilados.
Luiz Vaz de Camões
(1524-1580)
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