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sábado, dezembro 19, 2015
Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Eu simplesmente sinto com a imaginação, não uso o coração, admite Fernando Pessoa.
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, dezembro 06, 2015
Depois que todos foram, foi também o dia. E ficaram entre as sombras das áleas apertadas eu e a minha agonia, quem eu fui e quem sou, só eu e eu sem mim, eu e quem sei não ser, lembra com tristeza Fernando Pessoa.
Depois
Depois que todos foram
E foi também o dia,
Ficaram entre as sombras
Das áleas do ermo parque
Eu e a minha agonia.
A festa fora alheia
E depois que acabou
Ficaram entre as sombras
Das áleas apertadas
Quem eu fui e quem sou.
Tudo fora por todos.
Brincaram, mas enfim
Ficaram entre as sombras
Das áleas apertadas
Só eu, e eu sem mim.
Talvez que no parque antigo
A festa volte a ser.
Ficaram entre as sombras
Das áleas apertadas
Eu e quem sei não ser.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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quinta-feira, outubro 22, 2015
Não digas nada, não digas nada, que dizer é nada! Para Fernando Pessoa, outros são os caminhos e as razões.
Não digas nada!
Não digas nada! Que hás de me dizer?
Que a vida é inútil, que o prazer é falso?
Di-lo de cada dia a cadafalso
Ao que ali cada dia vai morrer.
Mais vale não querer.
Sim, não querer, porque querer é um ponto,
Ponto no horizonte de onde estamos,
E que nunca atinges nem achas,
Presos locais da vida e do horizonte
Sem asas e sem ponte.
Não digas nada, que dizer é nada!
Que importa a vida, e o que se faz na vida?
É tudo uma ignorância diluída.
Tudo é esperar à beira de uma estrada
A vinda sempre adiada.
Outros são os caminhos e as razões.
Outra a vontade que os fará seus.
Outros os montes e os solenes céus.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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Que a vida é inútil, que o prazer é falso?
Di-lo de cada dia a cadafalso
Ao que ali cada dia vai morrer.
Mais vale não querer.
Sim, não querer, porque querer é um ponto,
Ponto no horizonte de onde estamos,
E que nunca atinges nem achas,
Presos locais da vida e do horizonte
Sem asas e sem ponte.
Não digas nada, que dizer é nada!
Que importa a vida, e o que se faz na vida?
É tudo uma ignorância diluída.
Tudo é esperar à beira de uma estrada
A vinda sempre adiada.
Outros são os caminhos e as razões.
Outra a vontade que os fará seus.
Outros os montes e os solenes céus.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, setembro 27, 2015
Minha mulher, a solidão, consegue que eu não seja triste. Ah, que bom é ao coração ter este bem que não existe, na ilusão de Fernando Pessoa.
Minha mulher
Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminhos.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só - veste de seda -,
E fala só - leque animado.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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terça-feira, setembro 22, 2015
Fernando Pessoa sofre com a angústia, a raiva vil, o desespero de não poder confessar. Confessar num tom de grito, num último grito austero, seu coração a sangrar.
Ah! A angústia
Ah! A angústia, a raiva vil, o desespero
De não poder confessar
Num tom de grito, num último grito austero
Meu coração a sangrar!
Falo, e as palavras que digo são um som
Sofro, e sou eu.
Ah! Arrancar à música o segredo do tom
Do grito seu!
Ah! Fúria de a dor nem ter sorte em gritar,
De o grito não ter
Alcance maior que o silêncio, que volta, do ar
Na noite sem ser!.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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sábado, agosto 29, 2015
Depois de muito pensar, Fernando Pessoa sente que ele há de ser quem vai chegar, para ser quem quer partir. E que viver é não conseguir.
Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Viver é não conseguir.Para ser quem quer partir.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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quarta-feira, agosto 19, 2015
Hoje que está só e pode ver, Fernando Pessoa quer sentir ser ninguém. E de si mesmo demitir-se, pois nada foi, nada ousou e nada fez.
Bem, hoje que estou só e posso ver
Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser,
Quanto se o for, serei em vão,
Hoje, vou confessar, quero sentir-me
Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me
Por não ter procedido bem.
Falhei a tudo, mas sem galhardias,
Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Nem colhi nas urtigas dos meus dias
A flor de parecer feliz.
Mas fica sempre, porque o pobre é rico
Em qualquer cousa, se procurar bem,
A grande indiferença com que fico.
Escrevo-o para o lembrar bem.
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sábado, agosto 15, 2015
Fernando Pessoa deixou de ser aquele que esperava, deixou de ser quem nunca foi. Afinal, nada o explica, nada o pertence.
Deixei de ser aquele que esperava
Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.
A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.
Tudo depende do que não existe.
Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.
Nada me explica. Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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terça-feira, agosto 04, 2015
Amamos sempre no que temos o que não temos quando amamos. Nessa hora, sê a Outra, diz Fernando Pessoa em versos carregados de mágoa.
A Outra
Amamos sempre no que temos
O que não temos quando amamos.
O barco pára, largo os remos,
E, um a outro, as mãos nos damos.
A quem dou as mãos?
À Outra.
Teus beijos são de mel de boca,
São os que sempre pensei dar,
E agora a minha boca toca
A boca que eu sonhei beijar.
De quem é a boca?
Da Outra.
Os remos já cairam na água,
O barco faz o que a água quer.
Meus braços vingam minha mágoa
No abraço que enfim podem ter.
Quem abraço?
A Outra.
Bem sei, és bela, és quem desejei...
Não deixe a vida que eu deseje
Mais que o que pode ser teu beijo
O poder ser eu que te beije
Beijo, e em que eu penso?
Na Outra.
Os remos vão perdidos já,
o barco vai não sei para onde.
Que fresco o teu sorriso está,
Ah, meu amor, e o que ele esconde!
Que é do sorriso
Da Outra?
Ah, talvez mortos ambos nós,
Num outro rio sem lugar
Em outro barco outra vez sós
Possamos nós recomeçar
Que talvez sejas
A Outra.
Mas não, nem onde essa paisagem
É sob eterna luz eterna
Te acharei mais que alguém na viagem
Que amei com ansiedade terna
Por ser parecida
Com a Outra.
Ah, por ora, idos remo e rumo,
Dá-me as mãos, a boca, o teu ser.
Façamos dessa hora um resumo
Do que não poderemos ter.
Nesta hora, a única,
Sê a Outra.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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segunda-feira, julho 06, 2015
Para onde vai a minha vida, e quem a leva? Quando escreveu este poema, Fernando Pessoa pensou em alguém como eu, como você, como nós.
Para onde vai a minha vida, e quem a leva?
Por que faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?
O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e sou: não me iguala
Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.
Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma, que outra alma há na minha?
Por que me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha
Senão com um uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou entre quê e os fatos?
Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos eu goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia esquecida...
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, junho 21, 2015
O Amor, segundo o maior de todos os poetas.
O Amor
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, novembro 02, 2014
Para Fernando Pessoa, viver é um sonho morno de agrado aos jardins do passado. Daquilo que a gente lembra, sem querer se lembrar, daquilo que a gente sonha, sem saber de sonhar.
Aquilo que a gente lembra
Aquilo que a gente lembra
Sem o querer lembrar,
E inerte se desmembra
Como um fumo no ar,
É a música que a alma tem,
E o perfume que vem,
Vago, inútil, trazido
Por uma brisa de agrado,
Do fundo do que é esquecido,
Dos jardins do passado.
Aquilo que a gente sonha,
Sem saber de sonhar,
Aquela boca risonha
Que nunca nos quis beijar,
Aquela vaga ironia
Que uns olhos tiveram um dia
Para a nossa emoção -
Tudo isso nos dá o agrado,
Flores que flores são
Nos jardins do passado.
Não sei o que fiz da vida,
Nem o quero saber,
Se a tenho por perdida,
Sei eu o que é perder?
Mas tudo é música se há
Alma onde a alma está,
E há um vago, suave, sono,
Um sono morto de agrado,
Quando regresso, dono,
Aos jardins do passado.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, maio 25, 2014
Depois de muito pensar, Fernando Pessoa sente que ele há de ser quem vai chegar, para ser quem quer partir. E que viver é não conseguir.
Basta pensar em sentir
Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Para ser quem quer partir.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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segunda-feira, maio 19, 2014
Fernando Pessoa ouviu cantar um cego e a guitarra que estão a chorar. Mas ele também se sente um cego cantando na estrada, só que a estrada é maior e ele não pede nada.
O cego e a guitarra
O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.
Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.
Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.
Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.
Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.
Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.
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domingo, setembro 01, 2013
Não me digas mais nada, o resto é a vida. Levem o mundo, deixem-me o momento, pede a tristeza de Fernando Pessoa.
Não me digas mais nada
Não me digas mais nada. O resto é a vida.
Sob onde a uva está amadurecida.
Moram meus sonos, que não querem nada.
Que é o mundo? Uma ilusão vista e sentida.
Sob os ramos que falam com o vento,
Inerte, abdico do meu pensamento.
Tenho esta hora e o ócio que está nela.
Levem o mundo: deixem-me o momento!
Se vens, esguia e bela, deitar o vinho
Em meu copo vazio, eu, mesquinho
Ante o que sonho, morto te agradeço
Que não sou para mim mais do que um vizinho.
Quando a jarra que trazes aparece
Sobre meu ombro e a sua curva desce
A deitar vinho, sonho-te, e, sem ver-te,
Por teu braço teu corpo me apetece.
Não digas nada que tu creias. Fala
Como a cigarra canta. Nada iguala
O ser um sonho pequeno entre os rumores
Com que este mundo.
A vida é terra e o vivê-la é lodo.
Tudo é maneira, diferença ou modo.
Em tudo quando faças sê só tu,
Em tudo quanto faças sê tu todo.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, maio 05, 2013
Fernando Pessoa sente o mundo ruir a seu redor, escombro a escombro. E os seus sentidos oscilam, bandeira rota ao vento.
O mundo rui
O mundo rui a meu redor, escombro a escombro.
Os meus sentidos oscilam, bandeira rota ao vento.
Que sombra de que o sol enche de frio e de assombro
A estrada vazia do conseguimento?
Busca um porto longe uma nau desconhecida
E esse é todo o sentido da minha vida.
Por um mar azul nocturno, estrelado no fundo,
Segue a sua rota a nau exterior ao mundo.
Mas o sentido de tudo está fechado no pasmo
Que exala a chama negra que acende em meu entusiasmo
Súbitas confissões de outro que eu fui outrora
Antes da vida e viu Deus e eu não o sou agora.
Fernando Pessoa
(1888-1935))
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domingo, dezembro 09, 2012
Que coisa distante está perto de mim? Sei que estou sentindo a boca sorrindo aos sonhos que sou, é tudo o que sabe Fernando Pessoa,
Que coisa distante
Que coisa distante
Está perto de mim?
Que brisa fragrante
Me vem neste instante
De ignoto jardim?
Se alguém mo dissesse,
Não quisera crer.
Mas sinto-o, e é esse
O ar bom que me tece
Visões sem as ver.
Não sei se é dormindo
Ou alheado que estou:
Sei que estou sentindo
A boca sorrindo
Aos sonhos que sou.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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quarta-feira, novembro 21, 2012
Em sua primorosa obra de amor à Poesia*, José Paulo Cavalcanti Filho chegou à conclusão que o poeta tinha 127 heterônimos. E mesmo assim foi "um homem infeliz que sonhou ser tantos - e não conseguiu ser ele próprio".
Tudo quanto penso
Tudo quanto penso
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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*Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, Editora Record, Primeira Edição, 2011.
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domingo, setembro 16, 2012
O que eu fui o que é? Fernando Pessoa relembra vagamente apenas o vago não sei quê que passou e se sente.
O que eu fui
O que eu fui o que é?
Relembro vagamente
O vago não sei quê
Que passei e se sente.
Se o tempo é longe ou perto
Em que isso se passou,
Não sei dizer ao certo,
Que nem sei o que sou.
Sei só que me hoje agrada
Rever essa visão
Sei que não vejo nada
Senão o coração.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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domingo, agosto 19, 2012
Fernando Pessoa confessa que só pensar em dizer "amo-te", só isto, o angustia. E ao dizer que o amor causa-lhe horror talvez ele tenha revelado, mais do que em qualquer outro poema, o seu real sentimento.
O amor causa-me horror
O amor causa-me horror; é abandono,
Intimidade...
Não sei ser inconsciente
E tenho para tudo (...)
A consciência, o pensamento aberto
Tornando-o impossível.
E eu tenho do alto orgulho a timidez
E sinto horror a abrir o ser a alguém,
A confiar nalguém. Horror eu sinto
A que perscrute alguém, ou levemente
Ou não, quaisquer recantos do meu ser.
Abandonar-me em braços nus e belos
(Inda que deles o amor viesse)
No conceber do todo me horroriza;
Seria violar meu ser profundo,
Aproximar-me muito de outros homens.
Uma nudez qualquer - espírito ou corpo -
Horroriza-me: acostumei-me cedo
Nos despimentos do meu ser
A fixar olhos pudicos, conscientes
Do mais. Pensar em dizer - "amo-te"
E "amo-te" só - só isto, me angustia.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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