terça-feira, outubro 14, 2008

Mauro Mota viaja em suas lembranças das Assombrações do Recife velho. De arrepiar, até para quem nunca esteve lá.


Assombrações do Recife velho


Cadeiras balançam
sem gente, sozinhas.

Fantasmas, rumores
na cama, estilhaços.

Apagam-se os lampiões
de bicos de gás
e as lamparinas
de azeite no quarto.

As rezas das tias,
velas no oratório.
A noite comprida
não acaba mais.

Cavalos, boleeiros,
de fraque e cartola
nas ruas vazias.

A moça encantada
no Encanta-Moça.

O Sobrado-Grande
com assombração.

A ronda do Diabo
na Cruz do Patrão
com fogo nos chifres,
correndo no istmo
de Olinda ao Recife.

Canoas sem remo
no Capibaribe.

Uivos dos cachorros
no fundo dos sítios
e dos lobizomens
pegando as mulheres
na Volta ao Mundo.

Mauro Mota
(1911-1984 )

Mais sobre Mauro Mota em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mauro_Mota

Nenhum comentário: