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segunda-feira, agosto 08, 2011

Hoje até parece incrível, mas para Cruz e Sousa a dança do ventre era macabra e multiforme. Um verme estranho, colossal, enorme, do demônio sangrento da luxúria.


Dança do ventre

Torva, febril, torcicolosamente,
numa espiral de elétricos volteios,
na cabeça, nos olhos e nos seios
fluíam-lhe os venenos da serpente.
Ah! que agonia tenebrosa e ardente!
que convulsões, que lúbricos anseios,
quanta volúpia e quantos bamboleios,
que brusco e horrível sensualismo quente.

O ventre, em pinchos, empinava todo
como réptil abjecto sobre o lodo,
espolinhando e retorcido em fúria.

Era a dança macabra e multiforme
de um verme estranho, colossal, enorme,
do demônio sangrento da luxúria!

Cruz e Sousa
(1861-1898)

Mais sobre Cruz e Sousa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa


quarta-feira, maio 13, 2009

Cruz e Sousa sempre seguiu os passos daquela vida obscura. E sabe a cruz infernal que ela carregou nos braços até o suspiro profundo.


Vida obscura


Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cruz e Sousa
(1891-1968)

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

domingo, março 29, 2009

Tu és o Louco da imortal loucura, o louco da loucura mais suprema. Tu és o Poeta, o grande Assinalado, nos versos inesquecíveis de Cruz e Sousa.


O Assinalado


Tu és o Louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura
mas essa mesma Desventura extrema
faz que tu' alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
que povoas o mundo despovoado,
de belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e rica
toda a audácia dos nervos justifica
os teus espasmos imortais de louco!

Cruz e Sousa
(1861-1898)

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa

sexta-feira, junho 27, 2008

Cruz e Sousa teve o corpo corroído pela tuberculose e a alma tomada pela loucura. E como o acrobata, acabou por mostrar toda a sua dor.


Acrobata da dor


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa
(1861-1898)

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segunda-feira, março 24, 2008

Perante a morte empalidece e treme, diz com fervor Cruz e Sousa. E para o desespero insano, silêncio.


Perante a morte


Perante a morte empalidece e treme,
treme perante a Morte, empalidece.
Coroa-te de lágrimas, esquece
o Mal cruel nos abismos geme.

Ah! longe o inferno que flameja e freme,
longe a Paixão que só no horror floresce...
a alma precisa de silêncio e prece,
pois na prece e silêncio nada teme.

Silêncio e prece no fatal segredo,
perante o pasmo do sombrio medo
da Morte e os seus aspectos reverentes...

Silêncio para o desespero insano,
o furor gigantesco e sobre-humano...
a dor sinistra de ranger os dentes!

Cruz e Sousa

(1861-1898)

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terça-feira, dezembro 18, 2007

Cruz e Sousa teve o corpo corroído pela tuberculose e a alma tomada pela loucura. E como o acrobata, acabou por mostrar toda a sua dor.


Acrobata da dor


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.


Cruz e Sousa
(1861-1898)

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sábado, fevereiro 17, 2007

Cruz e Sousa via uma doce tristeza e ternura no olhar aflito dos que penetram na noite escura.


A Morte


Oh! que doce tristeza e que ternura
No olhar ansioso, aflito dos que morrem...
De que âncoras profundas se socorrem
Os que penetram nessa noite escura!

Da vida aos frios véus da sepultura
Vagos momentos trêmulos decorrem...
E dos olhos as lágrimas escorrem
Como faróis da humana Desventura.

Descem então aos golfos congelados
Os que na terra vagam suspirando,
Com os velhos corações tantalizados.

Tudo negro e sinistro vai rolando
Báratro abaixo, aos ecos soluçados
Do vendaval da Morte ondeando, uivando...

Cruz e Sousa
(1861-1898)

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sábado, novembro 25, 2006

Para o poeta, toda a alma num cárcere anda presa. E pergunta, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir as portas do Mistério?


Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!

Cruz e Sousa

(1861-1898)

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domingo, outubro 29, 2006

O poeta do simbolismo teve o corpo corroído pela tuberculose e a alma tomada pela loucura. E como o acrobata, acabou por mostrar toda a sua dor.


Acrobata da Dor


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa
(1861-1898)

Mais sobre Cruz e Sousa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_e_Sousa