sábado, novembro 29, 2008

Ninguém venha me dar vida, que estou morrendo de amor, que estou feliz de morrer. O amor que só quis quem não me quis, confessa Cecília Meireles.

Ninguém venha me dar vida

Ninguém venha me dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferido,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser,
e não quero me encontrar,
que estou dentro de um navio,
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.
Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.
Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis quem não me quis.

Cecília Meireles

(1901-1964)

Mais sobre Cecília Meireles em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles



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