quinta-feira, novembro 27, 2008
Thiago de Mello ainda não conseguiu encontrar a medida para aferir quem é maior ou menor poeta. Menor por que, por que maior? Somos poetas, ele diz.
Palavra perto do peito
Ainda não consegui, eu que leio
poetas todos os dias,
encontrar a medida universal,
a fita métrica mágica
para aferir quem é grande, quem é maior ou menor.
Menor, por que? Por que maior?
Somos poetas, os que somos.
Cada leitor é quem sabe
os que lhe chegam mais perto
do peito, do ser, da fronte.
Não sei se os meus prediletos
("Eu plantei um pé de sono,
nasceram vinte roseiras").
- só gosto do que se move,
só me comove o que entendo -
são pequenos ou são grandes.
Sei só que são bem amados.
Quem me frequenta de livro
ou de vida, o que afinal
vem a dar no mesmo, sabe
que não padeço da feia
enfermidade da falsa
modéstia.
O arqueiro, até
pela sombra azul da flecha,
sabe que vai dar no alvo.
O coração do cientista
bate mais forte quando olha
a proveta florescendo.
Sabe o artista se a beleza
faz o milagre do poema.
Até hoje as palavras me amedrontam.
Certas delas, impenetráveis, áridas,
por mais que delas me afaste,
parece que mofam de mim.
Ainda bem que muitas gostam de minha boca,
amanhecem cantando
no meu peito.
Thiago de Mello
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