quinta-feira, novembro 13, 2008
Manoel de Barros escreveu 14 livros e deles está livrado. E confessa: noventa por cento do que escreve é invenção, só dez por cento que é mentira.
Auto-retrato
Ao nascer eu não estava acordado, de forma que
não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
Depois eu já morri 14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros
E deles estou livrado.
São todos repetições do primeiro.
(posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim).
Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro.
Em pensamentos e palavras namorei noventa moças,
mas pode que nove.
Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze.
Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um
abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios,
um prego que farfalha, um parafuso de veludo etc etc.
Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção;
só dez por cento que é mentira.
Quero morrer no barranco de um rio:
- Sem moscas
na boca descampada!
Manoel de Barros
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4 comentários:
E a vida é um isso e aquilo de coisas e não-coisas. Metade do que fomos, metade do que seremos.
E a presente nasce na beira de uma poesia!
Muito Legal esse blog, adorei!
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oioi. Você, por gentileza, sabe em que livro do Manoel este poema, o "Auto-retrato", está publicado?
Grato!
:)
O poema Auto-Retrato", foi publicado pela primeira vez no livro "Álbum de família", Ensaios Fotográficos, Editora Record, Rio de Janeiro, 2005.
O Editor
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