segunda-feira, novembro 17, 2008

Olhos negros, verdes, azuis; cabelos louros, negros, vermelhos e castanhos. Sá-Carneiro conheceu muitas mulheres, mas só a ela há-de sempre amar.


Versos d'amor


Eu conheço uns olhos negros
Que brilham como diamantes,
Cheguei-me ao pé deles
E fiquei tal como dantes!...

Eu conheço uns olhos verdes
Que alumiam cintilando,
Já os tenho até beijado
Mas nunca os fiquei amando!...

Conheço uns olhos azuis
Como outros' inda não vi
Ferozes, belos...Por eles
Jamais amor eu senti!...

Também conheço uns castanhos
(Que são os teus minha amada)
Bem vulgares mas pelos quais
Minha' alma anda apaixonada.

Conheço uns cabelos louros
Que são d'ouro precioso
Já lhes sorvi o perfume
Mas não fruí nenhum gozo!...

Conheço uns cabelos negros
De ébano o mais retinto...
Passo a minha mão por eles
Mas nada...mas nada sinto!...

Também conheço uns vermelhos
Os quais já alguém mataram.
Apesar disso os tiranos
Nem sequer m' impressionaram.

Mas eu sei porém d' uns outros
Do castanho mais vulgar
Cuja dona graciosa
Hei-de sempre idolotrar.

Tão sedosos eles são,
Tão finos, tão abundantes
Que no mundo não existem
Por certo outros semelhantes!...

Sei de muita mulher bela
Que não posso tolerar
Só a ti, a ti meu anjo
É que hei-de sempre amar!...

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário de Sá-Carneiro em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

Um comentário:

Liana disse...

MEU Poeta dos Poetas,

Só a ti, a ti meu anjo
É que hei-de sempre amar!...