sábado, agosto 30, 2008

Quando estás vestida, ninguém imagina os mundos que escondes sob as tuas roupas. Mas nua, nua, nua, me sorri tua alma, diz Bandeira ao seu amor.


Nu


Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos
Brilha o teu umbigo.
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus seios exiguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também;
Teu olhar mais longo,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular!

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tua alma,
Nua, nua, nua.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

Um comentário:

cristinasiqueira disse...

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Cris