quarta-feira, agosto 06, 2008

Não tenho mais palavras, gastei-as a negar-te. E só a negar-te eu pude combater o terror de te ver em toda parte, entristecido confessa Miguel Torga.


Desfecho


Não tenho mais palavras
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda parte,)
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente...
E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão,
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tu não usas,
Sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo que te dizia...
Agora, somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a paz na teimosia.

Miguel Torga
(1907-1995)

Mais sobre Miguel Torga em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga

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