sábado, agosto 16, 2008
Nos versos de Adélia Prado, é descuidar, o amor te pega, te come, te molha todo.Tudo manha, truque, engenho, mas água o amor não é.
Corridinho
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
Adélia Prado
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3 comentários:
Isso mesmo, amor não é água não, José Antonio. Obrigado pelos lindos poemas e pelos seus comentários.
Maria
(lembra de mim?)
O amor cada vez mais sinto o quanto ele não é "bicho instruído"!
Ele se apresenta de inúmeras formas que até nos confunde...quanto mais se tenta definí-lo, mais ele se revela de forma inesperada.
O que é importa é sentí-lo da forma mais sincera que ele nos chega e amar como nos é possível.
Ana Paula
A Adélia Prado tem o dom de nos transportar para um mundo simples e essencial. Sou mineira e não poderia deixar de pensar no jeito simples de ser de muitas pessoas do interior. Falou de amor e não falou de um jeito gostoso.Parabéns pelo blog!
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