sexta-feira, maio 02, 2008

Mário de Andrade sabe que não tem propósito gostar de donas casadas. O seu espírito sublima o fogo devorador e encabulado ponteia a malvadeza do amor.


Tempo da Maria


Maria dos meus pecados,
Maria, viola do amor...

Já sei que não tem propósito
Gostar de donas casadas,
Mas quem pode com o peito!
Amar não é desrespeito,
Meu amor terá seu fim.
Maria há-de ter um fim.

Quem sofre, sou eu, que importa
Pros outros meu sofrimento?
Já estou curando a ferida.
Só dando tempo pro tempo
Toda paixão é esquecida.
Maria será esquecida.

Que bonita que ela é!...Não
Me esqueço dela um momento!
Porém não dou cinco meses,
Acabarão as fraquezas
E a paixão será arquivada.
Maria será arquivada.

Por enquanto isso é impossível.
O meu corpo encasquetou
De não gostar senão de uma...
Pois, pra não fazer feiúra,
Meu espírito sublima
O fogo devorador.
Faz da paixão uma prima,
Faz do desejo um bordão,
E encabulado ponteia
A malvadeza do amor.

Maria, viola de amor!...

Mário de Andrade
(1893-1945)

Mais sobre Mário de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_Andrade

Nenhum comentário: