terça-feira, maio 13, 2008

Ando muito completo de vazios e meu órgão de morrer predomina. Estou sem eterninadades e a minha independência tem algemas, diz Manoel de Barros.


Completo

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.

Manoel de Barros

Mais sobre Manoel de Barros em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros


Um comentário:

Carmen Regina Dias disse...

Fantástico! Incrível clareza de alma
exprimindo a realidade profunda da
condição humana...