terça-feira, maio 06, 2008
É a chuva, é o vento, é o medo, é a treva, é o tédio. Assim, Guilherme de Almeida sente que é tudo inútil, não há remédio, é mesmo o tédio.
A canção do tédio
Anda uma estrela pelo céu,
sozinha, arrastando um véu
de viúva.
- É a chuva.
Rola um soluço leve no ar,
bem longe no seu rolar,
bem lento.
- É o vento.
Perpassa o passo oco de algum
fantasma, quieto como um
segredo.
- É o medo.
Batem à porta. Abro. Quem é?
Uma alta sombra, de pé,
se eleva.
- É a treva.
Mas, desde então alguém está
comigo. É inútil. Não há.
remédio.
- É o tédio.
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
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