Quarenta anos
A vida é para mim, esté se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Disso, persisto em me enganar...Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado...Horrendo
Seria agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!...Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
Mário de Andrade
(1893-1945)
Mais sobre Mário de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_Andrade
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