segunda-feira, maio 19, 2008
Manuel Bandeira viu muita coisa na vida, viu os céus, viu até o rastro do Senhor. Mas o que mais o impressionou foi tê-la visto nua...toda nua!
Alumbramento
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela...e sinto-a pura...
Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma...
Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!...
Vi...vi o rastro do Senhor!...
E vi a Via-Láctea ardente...
Vi comunhões...capelas...véus...
Súbito...alucinadamente...
Vi carros triunfais...troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Eu vi-a nua...toda nua!
Manuel Bandeira
(1886-1968)
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