quinta-feira, abril 24, 2008

Na ânsia de se fazer em muitos, Guimarães Rosa sente saudade de todos os presentes vividos fora dele. E sonha com uma só alma-corpo, uma só, um!...


Saudade


Saudade de tudo!...

Saudade, essencial e orgânica,
de horas passadas,
que eu podia viver e não vivi!...
Saudade de gente que não conheço,
de amigos nascidos noutras terras,
de almas órfãs e irmãs,
de minha gente dispersa,
que talvez até hoje ainda espere por mim...

Saudade triste do passado,
saudade gloriosa do futuro,
saudade de todos os presentes,
vividos fora de mim!...

Pressa!...
Ânsia voraz de me fazer em muitos,
fome angustiosa da fusão de tudo,
sede da volta final
da grande experiência:
uma só alma em um só corpo,
uma só alma-corpo,
uma só,
um!...
Como quem fecha numa gota
o Oceano,
afogado no fundo de si mesmo...

Guimarães Rosa
(1908-1967)

Mais sobre Guimarães Rosa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Guimar%C3%A3es_Rosa

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, José Antônio !
Belíssimos os poemas de hoje !
Um abraço !
Alice

Anônimo disse...

Cada vez mais apaixonada.
O que você faz pela poesia e por todos que amam, não tem preço.
Muito obrigada,