sábado, abril 05, 2008

De muito desejar altura e eternidade, me vem a fantasia de que Existo e Sou. Quando sou nada, égua fantasmagórica, diz Hilda sorvendo a lua n'água.

Égua Fantasmagórica

De tanto te pensar, me veio a Ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e de abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n’água.

Hilda Hilst

(1930-2004)

Mais sobre Hilda Hilst em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst

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