Mulher vestida de gaiola
Parece que vives sempre
de uma gaiola envolvida,
isenta, numa gaiola,
de uma gaiola vestida,
de uma gaiola, cortada
em tua exata medida
numa matéria isolante:
gaiola-blusa ou camisa.
E assim como tu resides
nessa gaiola, cingida,
o vasto espaço que sobra
de tua gaiola-ilha
é como outra gaiola
igual que o mar: sem medida
e aberto em todos os lados
(menos no que te limita).
Pois nessa gaiola externa
onde tudo tem cabida,
onde cabe Pernambuco
e o resto da geografia,
três bilhões de humanidade
e até canaviais de usina
sei que se debate um pássaro
que a acha pequena ainda.
Tal gaiola para ele
mais do que gaiola é brida;
como cárcere lhe aperta
sua gaiola infinita
e lhe aperta exatamente
por essa parede mínima
em que sua gaiola-mundo
com a tua faz divisa.
Contra essa curta parede
entre ti e ele contígua,
que te defende e para ele
é de força, se é camisa,
todo o dia se debate
a sua força expansiva
(não de pássaro, de enchente,
de enchente do mar de Olinda).
Por que ele a quem sua gaiola
de outros lados não limita,
deseja invadir o espaço
de nada que tu lhe tiras?
por que deseja assaltar
precisamente a área estrita
da gaiola em que resides,
melhor: de que estás vestida?
João Cabral de Melo
(1920-1999)
Mais sobre João Cabral de Melo em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto
segunda-feira, abril 21, 2008
João Cabral de Melo não se conforma com a vida da mulher que vive na camisa de força de uma gaiola. A gaiola em que ela reside, de que está vestida.
(/code)
(code)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Um a bela pagina meu amigo os poemas de João Cabral de Melo
são mesmo dignos de atenção por sua beleza poética.
parabéns abraços Dora
Postar um comentário