quarta-feira, outubro 28, 2009

Há mais de cinquenta anos, Manuel Bandeira já sentia saudades do Rio antigo. Hoje, já teria ido embora para Pasárgada há muito tempo.


Saudades do Rio antigo


Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá o rei não será deposto
E lá sou amigo do rei.
Aqui eu não sou feliz
A vida está cada vez
Mais cara, e a menor besteira
Nos custa os olhos da cara.
O trânsito é uma miséria:
Sair a pé pelas ruas
Desta capital cidade
É quase temeridade.
E eu não tenho cadilac
Para em vez de atropelado,
Atropelar sem piedade
Meus pedestres semelhantes.
Oh! que saudades que eu tenho
Do Rio como era dantes!
O Rio que tinha apenas
Quinhentos mil habitantes.
O Rio que conheci
Quando vim para cá menino:
Meu velho Rio gostoso,
Cujos dias revivi
Lendo deliciosamente
O livro de Coaraci.
Cidade onde, rico ou pobre
Dava gosto se viver.
Hoje ninguém está contente.
Hoje, meu Deus, todo mundo
Traz na boca a cinza amarga
Da frustração...Minha gente,
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Mais sobre Manuel Bandeira em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

Um comentário:

Unknown disse...

Ai, eu também quero ir-me embora! O Rio de Janeiro faz a gente sofrer demais! Ainda bem que o Bandeira já foi embora pra sua Pasárgada e não viu o Rio sucumbir ainda mais...