sábado, outubro 31, 2009
Ela estava dançando, o jazz band tocava, ela olhou demais para Guilherme de Almeida. E um amigo disse ao poeta: -"É assim que essas coisas começam!".
Como essas coisas começam
Era uma vez...Mas eu nem sei como, onde, quando,
por que foi isso. Eu sei que ela estava dançando.
O jazz-band esgarçava o véu de uma doidice.
Ela olhou-me demais - e um amigo me disse:
- "Cuidado! É sempre assim que essas coisas começam!"
Estas frases banais, vazias, me interessam,
porque elas sempre têm, à flor de certas bocas,
a ressonância musical das coisas ocas.
Deixei meu sonho ecoar dentro daquela frase:
e senti, sem querer, necessidade quase
de começar alguma coisa...
Ontem o amigo
- o precioso banal - encontrou-se comigo.
Ele pôs num sorriso esta frase indiscreta:
- " Então, quando é que acaba essa história, meu poeta?"
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
Mais sobre Guilherme de Almeida em
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