sábado, outubro 24, 2009
Altiva e couraçada de desdém, Florbela Espanca vive sozinha em seu castelo: a Dor. Por lá passa todo o amor, mas nunca entrou alguém.
Castelã da tristeza
Altiva e couraçada de desdém,
Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
Passa por ele a luz de todo o amor...
E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês?... A quem?!...
- E o meu olhar é interrogador -
Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...
Chora o silêncio...nada...ninguém vem...
Castelã da Tristeza, por que choras
Lendo, toda de branco, um livro de horas,
À sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada p'las ameias,
Por que rezas baixinho? Por que anseias?...
Que sonho afagam tuas mãos reais?...
Florbela Espanca
(1894-1930)
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