terça-feira, maio 26, 2009
São tantas as Marias na vida de Manuel Bandeira que é um nunca acabar. Mas a melhor das Marias foi aquela que ele perdeu.
Canção de muitas Marias
Uma, duas, três Marias,
Tira o pé da noite escura.
Se uma Maria é demais,
Duas, três, que não seria?
Uma é Maria da Graça,
Outra é Maria Adelaide:
Uma tem o pai pau-d'água,
Outra tem o pai alcaide.
A terceira é tão distante
Que só vendo por binóculo.
Essa é Maria das Neves,
Que chora e sofre do fígado!
Há mais Marias na terra,
Tantas que é um não acabar,
- Mais que as estrelas no céu,
Mais que as folhas na floresta,
Mais que as areias no mar!
Por uma saltei de vara.
Por outra estudei tupi.
Mas a melhor das Marias
Foi aquela que eu perdi.
Essa foi a Mária Cândida
(Mária, digam por favor),
Minha Maria enfermeira,
Tão forte e morreu de gripe,
Tão pura e não teve sorte,
Maria do meu amor.
E depois dessa Maria,
Que foi cândida no nome,
Cândida no coração;
Que em vida foi a das Dores.
E hoje é Maria do Céu:
Não cantarei mais nenhuma,
Que a minha lira estalou,
Que a minha lira morreu!
Manuel Bandeira
(1886-1968)
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