sábado, maio 23, 2009
Florbela Espanca sente uma saudade que nem sabe de onde vem. Na noite, ela nunca sabe quem é, nem o que tem.
Noite de saudade
A noite vem poisando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura...
E nem sequer a benção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a noite escura!
Por que és assim tão 'scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual a que eu contenho!
Saudade que eu nem sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!
Florbela Espanca
(1894-1930)
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