domingo, maio 31, 2009

Quando olho para mim não me percebo. Nem sei bem se sou quem em mim sente, reconhece Álvaro de Campos depois de muito se perguntar.


Quando olho
para mim não me percebo


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Não sei bem se sou eu quem em mim sente.

Álvaro de Campos, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

Mais sobre Fernando Pessoa em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

Um comentário:

Anônimo disse...

What a beautiful piece from the talented, Fernando Pessoa. As all his a/kas,
Andreia