quinta-feira, maio 28, 2009

De Vinicius à mulher do povo: Ao teu encontro onde estiveres, pois assim querem os malmequeres. Porque és tu santa entre as mulheres, te encontrarei!


Valsa à mulher do povo


Oferenda

Oh minha amiga da face múltipla
Do corpo periódico e geral!
Lúdica, efêmera, inconsútil
Musa central-ferroviária!
Possa esta valsa lenta e súbita
Levemente copacabanal
Fazer brotar do povo a flux
A tua imagem abruptamente
Ó antideusa!

Valsa

Te encontrarei na barca Cubango, nas amplas salas da Cubango
Vestida de tangolamango
Te encontrarei!
Te encontrarei nas brancas praias, pelas pudendas brancas praias
Itinerante de gandaias
Te encontrarei. Te encontrarei nas feiras-livres
Entre moringas e vassouras, emolduradas de cenouras
Te encontrarei. Te encontrarei, te encontrarei
Nos longos footings suburbanos, tecendo os sonhos mais humanos
Capaz de todos os enganos
Te encontrarei. Te encontrarei nos cais noturnos
Junto a marítimos soturnos, sombras de becos taciturnos
Te encontrarei. Te encontrarei, oh mariposa
Oh taxi-girl, oh virginete pregada aos homens a alfinete
De corpo saxe e clarinete
Te encontrarei. Oh pulcra, oh pálida, oh pudica
Oh grã-cupincha, oh nova-rica
Que nunca sais da minha dica: sim, eu irei
Ao teu encontro onde estiveres
Pois que assim querem os malmequeres
Porque és tu santa entre as mulheres
Te encontrarei!

Vinicius de Moraes
(1913-1980)

Mais sobre Vinicius de Moraes em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinicius_de_Moraes

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