terça-feira, junho 10, 2008

Ele era da raça dos que suportam todo o peso da vida e ninguém amou mais do que ele amou. Para Schmidt, ele era da raça dos heróis obscuros.


Retrato

Ele era da raça dos que suportam
Todo o peso da vida,
Era da dos que não se queixam
Dos que sorriem diante do destino adverso.

Viveu em silêncio grandes horas amargas
E ninguém conheceu as devastações,
O efeito dos golpes que lhe foram vibrados.

As sua ruínas, os seus deuses mutilados,
Os túmulos que estavam nele
Ninguém desvendou,
Tudo ficou escondido,
Tudo ficou defendido
Pela sua máscara tranquila.

No entanto ninguém amou
Mais profundamente do que ele amou,
E ninguém terá recolhido maior melancolia
E maior incompreensão
Do amor.
Ninguém desejou mais a companhia dos seus semelhantes,
Ninguém teve mais necessidade do calor amigo,
Do apoio, do aplauso, da solidariedade humana.
No entanto - sua vida se consumiu na solidão, no desamparo e na indiferença.

A amargura não fermentou sua alma,
O ressentimento não dominou jamais sua visão simples das coisas,
Ele era da raça dos heróis obscuros.

Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)

Mais sobre Augusto Frederico Schmidt em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Frederico_Schmidt

2 comentários:

Anônimo disse...

Emocionante RETRATO de Schmidt.
Lindo, lindo..
a sua mais completa tradução.
SUA.
Beijos.

Anônimo disse...

Nem vou falar do poema... nem vou falar de Schmidt...ele foi feliz, foi um poeta amado...e amou!
Mas vou falar da insônia...quando ela chega, em algumas noites, é aqui que me refugio...e fico lendo esses poemas, até que o sono me tome e eu possa, por fim, adormecer. E é inundada por essa poesia, que me transformo numa criatura quase líquida...e me deixo levar por meus fantasmas, finalmente! Que bom ter esse espaço...onde os poetas e a poesia se encontram!!! Obrigada!!!