terça-feira, junho 24, 2008

Da vez primeira que me assassinaram, perdi um jeito de sorrir que eu tinha. E hoje, dos meus cadáveres, eu sou o que não tem mais nada, diz Quintana.


Da vez primeira que me assassinaram

Da vez primeira em que me assassinaram

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...

Depois, de cada vez que me mataram

Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada...

Arde um toco de vela, amarelada...

Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!

Ah! Desta mão, avaramente adunca,

Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!

Que a luz, trêmula e triste como um ai,

A luz do morto não se apaga nunca!

Mario Quintana

(1906-1994)

Mais sobre Mario Quintana em

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana

Um comentário:

Jorge A A Pedrosa disse...

Da vez primeira, linda e poeticamente cantada por Jorge Gibbon.
Grande Gibba, ficou muito boa a sua interpretação deste soneto.
Um abraço!
Jorge A A Pedrosa