quinta-feira, julho 03, 2008

Neste país onde se morre de coração inacabado deixarei apenas sílabas de cal viva junto à água. É só o que me resta, diz Eugénio de Andrade.


Três ou quatro sílabas

Neste país

onde se morre de coração inacabado

deixarei apenas três ou quatro sílabas

de cal viva junto à água.

É só o que me resta

e o bosque inocente do teu peito

meu tresloucado e doce e frágil

pássaro das areias apagadas.

Que estranho ofício o meu

procurar rente ao chão

uma folha entre a poeira e o sono

húmida ainda do primeiro sol.


Eugénio de Andrade

(1923-2005)

Mais sobre Eugénio de Andrade em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Eug%C3%A9nio_de_Andrade


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