quinta-feira, julho 10, 2008

Lá anda a minha Dor às cambalhotas no salão de vermelho atapetado. No poema de Sá-Carneiro, chora um palhaço às piruetas e, ao fim, bandeiras pretas.


Pied-de-nez


Lá anda a minha Dor às cambalhotas
No salão de vermelho atapetado -
Meu cetim de ternura engordurado,
Rendas da minha ânsia todas rôtas...

O Erro sempre a rir-me em destrambelho -
Falso mistério, mas que não se abrange...
De antigo armário que agoirente range,
Minha alma actual o erverdinhado espelho...

Chora em mim um palhaço às piruetas;
O meu castelo em Espanha, ei-lo vendido -
E, entretanto, foram de violetas,

Deram-me beijos sem os ter pedido...
Mas como sempre, ao fim - bandeiras pretas.
Tômbolas falsas, carrousel partido.

Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)

Mais sobre Mário de Sá-Carneiro em

http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_S%C3%A1-Carneiro

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