sexta-feira, janeiro 22, 2010

Nos versos de João Cabral de Melo, os vazios do homem contêm nadas. Contêm apenas vazios.


Os vazios do homem


Os vazios do homem não sentem ao nada
do vazio qualquer: do do do casaco vazio,
do da saca vazia (que não ficam de pé
quando vazios, ou o homem com vazios);
os vazios do homem sentem a um cheio
de um coisa que inchasse já inchada;
ou ao que deve sentir, quando cheia,
uma saca,: todavia, não qualquer saca.
Os vazios do homem, esse vazio cheio,
não sentem ao que uma saca de tijolos,
uma saca de rebites; nem têm o pulso
que bate numa de sementes, de ovos.

2

Os vazios do homem, ainda que sintam
a uma plenitude (gora mas presença),
contém nadas, contêm apenas vazios:
o que a esponja, vazia quando plena;
incham do que a esponja, de ar vazio,
e dele copiam certamente a estrutura:
toda em grutas, ou em gotas de vazio,
postas em cachos de bolha, de não-uva.
Esse cheio vazio sente ao que uma saca
mas cheia de esponjas cheias de vazio;
os vazios do homem ou o vazio inchado:
ou o vazio que inchou por estar vazio.


João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)

Mais sobre João Cabral de Melo Neto em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto

Um comentário:

Malu Paixão disse...

Esse blog é uma benção!! É simplesmente maravilhoso! Fiquei muito feliz por te-lo encontrado. por favor, continue com esse trabalho maravilhoso! Fiquei horas lendo as postagens. Estarei sempre por aqui; bjão.