sábado, janeiro 16, 2010
Josette é tudo o que quiser o poema de Paulo Mendes Campos. Mas, seus olhos, calmaria de ilhas verdes, ah, são seus olhos.
Josette
Colunas do teu corpo. O real
Das coxas longas onde se implanta o ventre
Leve. O branco do seio
Dando o leite do sonho ao animal
Da noite acostumado a sofrer sede.
Teu perfil tem a linha imaginária
Das mais felizes frases literárias.
És quem tu és, és a rosa e o rosicler.
Quando caminhas vais frisando a rua
De uma eloquência clara de escultura.
És sol agora, ontem na praia foste a lua.
És tudo o que quiser o meu poema,
Mas não és o orvalho que roreja nem és pura.
Possuis a elegância de uma ave
De pés espapaçados (as mais belas)
E tens do mar o frescor suave e a voz tão grave.
Como a vaga empinada que se espraia
Abres equestres movimentos no vento. Teus cabelos
São as últimas lembranças lúcidas que me restam.
Calmaria de ilhas verdes, teus olhos,
Ah,
São teus olhos.
Paulo Mendes Campos
(1922-1991)
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