sexta-feira, janeiro 22, 2010

Henrique Trindade Coelho vê a mulher rondar, erótica e franzina, por detrás do quartel as vozes dos soldados. Ao ouvir um "Quem vem lá?", ela fugiu.


Ela andou a rondar, erótica e franzina


Ela andou a rondar, erótica e franzina,
por detrás do quartel as vozes dos soldados.
Numa biqueira, ao fundo, a água leve e fina
tinha à luz do luar suspiros cadenciados.

Ondeou, requebrada, e perpassou, felina.
E de lá, na penumbra, em gestos excitados,
mostrou à sentinela a curva viperina,
viscosa e sensual dos seios desbotados.

Alongou-os depois nas mãos impacientes,
alongou-os. Na sombra, as filas dos seus dentes
davam uns arrepios à quietação da rua.

Mas houve um "Quem vem lá?". Fugiu pela viela.
Aquela hora, apenas, magra, uma cadela
vadiava também, na grande paz da lua.

Henrique Trindade Coelho
(1885-1934)

Mais sobre Henrique Trindade Coelho em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Trindade_Coelho

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