sábado, janeiro 23, 2010
Henriqueta Lisboa sente que os olhos do seu amor são mais tristes do que os dela. E tem a impressão de que que ele vai lhe dizer adeus.
Olhos tristes
Olhos mais tristes ainda do que os meus
são esses olhos com que o olhar me fitas.
Tenho a impressão que vais dizer adeus
este olhar de renúncias infinitas.
Todos os sonhos, que se fazem seus,
tomam logo a expressão de almas aflitas.
E até que, um dia, cegue à mão de Deus,
será o olhar de todas as desditas.
Assim parado a olhar-me, quase extinto,
esse olhar que, de noite, é como o luar,
vem da distância, bêbedo de absinto...
Este olhar, que me enleva e que me assombra,
vive curvado sob o meu olhar
como um cipreste sobre a própria sombra.
Henriqueta Lisboa
(1901-1985)
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