terça-feira, janeiro 26, 2010
Martins Fontes chora e o seu desespero inconsolado explode. Pela agonia de ter amado, quanto amar se pode, sem ter amado quanto amar devia.
Beijos mortos
Amemos a mulher que não ilude,
e que, ao saber que a temos enganado,
perdoa por amor e por virtude,
pelo respeito ao menos do passado.
Muitas vezes, na minha juventude,
evocando o romance de um noivado,
sinto que amei outrora quando pude,
porém mais deveria ter amado.
Choro. O remorso os nervos me sacode.
E, ao relembrar o mal que então fazia,
meu desespero inconsolado explode.
E a causa desta horrrível agonia,
é ter amado, quanto amar se pode,
sem ter amado quanto amar devia.
Martins Fontes
(1884-1937)
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