sábado, janeiro 09, 2010

Em certo momento, Mário de Andrade sente que a gente escapa da vontade. E a vida, como viola desonesta, viola a morte do ardor, e se dedilha... fraca.


Momento


O mundo que se inunda claro em vultos roxos
No caos profundo em que a tristura
Tange mansinho os ventos aos mulambos.

A gente escapa da vontade.
Se sente prazeres futuros,
Chegar em casa,
Reconhecer-se em naturezas-mortas...

Oh, que pra lá da serra caxingam os dinosauros!

Em breve a noite abrirá os corpos,
As embaúbas vão se refazer...

A gente escapa da vontade.
Os seres mancham apenas a luz dos olhares,
Se sobrevoam feito músicas escuras.

E a vida, como viola desonesta,
Viola a morte do ardor, e se dedilha...
Fraca.

Mário de Andrade
(1894-1945)

Mais sobre Mário de Andrade em
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_de_Andrade

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