sábado, março 28, 2009
Para a sua amada Carolina, Machado de Assis escreveu um dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa. Seu último soneto, um comovente réquiem.
A Carolina
Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existênca apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos mal feridos
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.
Machado de Assis
(1839-1908)
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