quinta-feira, março 26, 2009
Não era inconfessável que eu fizesse versos, mas juntos nos libertávamos a cada novo poema. Nós dois despertamos o silêncio, diz João Cabral de Melo.
Homem falando no escuro
Dentro da noite ao meu lado
grandes comtemplações silenciosas;
dentro da noite, dentro do sonho
onde os espaços e o silêncio se confundem.
Um gesto corria do princípio
batendo asas que feriam de morte.
Eu me sentia simultaneamente adormecer
e despertar para as paisagens mais cotidianas.
Não era inconfessável que eu fizesse versos
mas juntos nos libertávamos a cada novo poema.
Apenas transcritos eles nunca foram meus,
e de ti nada restava para as cidades estrepitosas.
Só os sonhos nos ocupam esta noite,
nós dois juntos despertamos o silêncio.
Dizia-se que era preciso uma inundação,
mas nem mesmo assim uma estrela subiu.
João Cabral de Melo Neto
(1920-199)
Mais sobre João Cabral de Melo Neto em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto
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