quarta-feira, março 25, 2009

A noite desce e Emílio Moura se sente só, só e desesperado. Diante dos horizontes que se fechavam, ele viu que só as estrelas é que o entenderiam.


Como a noite descesse...


Como a noite descesse e eu me sentisse só,
só e desesperado diante dos horizontes que se fechavam,
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível Aurora!
e vi logo que só as estrelas é que me entenderiam.
Era preciso esperar que o próprio passado desaparecesse,
ou então voltar à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
- É por aqui!

Onde, entretanto, quem me disesse
ao espírito cego:
- Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que não dizer baixinho, como quem reza:
- Ó doce e incorruptível Aurora...
se só as estrelas é que me entenderiam?

Emílio Moura
(1902-1971)

Mais sobre Emílio Moura em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlio_Guimar%C3%A3es_Moura

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