domingo, agosto 05, 2007

Para Augusto Meyer, o Minuano vem de longe, vem do pampa e do céu.Traz todas as vozes numa voz, todas as dores numa dor, todas as raivas em sua raiva.


Minuano


Este vento faz pensar no campo, meus amigos,
Este vento vem de longe, vem do pampa e do céu.
Olá compadre, levante a poeira em corrupios,
Assobia e zune encanado na aba do chapéu.
Curvo, o chorão arrepia a grenha fofa,
Giram na dança de roda as folhas mortas
Chaminés botam fumaça horizontal ao sopro louro
E a vaia fina fura a frincha das portas.
Olá compadre, mais alto, mais alto!
As ondas roxas do rio rolando a espuma
Batem nas pedras da praia o tapa claro...
Esfarrapadas, nuvens nuvens galopeiam
No céu gelado, altura azul.
Este vento macho é um batismo de orgulho.
Quando passa lava a cara, enfuna o peito,
Varre a cidade onde eu nasci sobre a coxilha.
Não sou daqui, sou lá de fora...
Ouço o meu grito gritar na voz do vento:
- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!
Comedor de horizontes,
Meu compadre andarengo, entra!
Que bem me fez o teu galope de três dias
Quando se atufa zunindo na noite gelada...
Ó mano
Minuano
Upa upa
Na garupa!
Casuarinas cinamonos pinhais
Largo lamento gemido intenso, vento!
Minha infância tem a voz do vento virgem:
Ele ventava sobre o rancho onde morei.
Todas as vozes numa voz, todas as dores numa dor,
Todas as raivas na raiva do meu vento!
Que bem me faz! mais alto, compadre!
Derrube a casa!me leva junto!eu quero o longe!
Não sou daqui, sou lá de fora, ouve o meu grito!
Eu sou o irmão das solidões sem sentido...
Upa upa sobre o pampa e sobre o mar....

Augusto Meyer
(1902-1970)

Mais sobre Augusto Meyer em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Meyer

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