Fagulha
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Ana Cristina Cesar
(1952-1983)
Mais sobre Ana Cristina Cesar em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Cristina_C%C3%A9sar
Um comentário:
Palavras de A.C.C. me interessam...Ela é a minha preferida!
Gostei muito do teu Blog e é por isso que te convido para visitar o meu novo blog que fiz com uma amiga, o Cinco Espinhos. Lá discute-se literatura de forma poética e você está livre para deixar seu comentário. Tem ainda uma enquete que se renova a cada semana. E mais! No Garimpo Literário destacamos um escritor anônimo semanalmente.
Abraço.
Postar um comentário