terça-feira, agosto 21, 2007

Mesmo que eu morra, o poema encontrará uma praia onde quebrar as suas ondas. E me levará no tempo, quando eu já não for eu, disso estava certa Sophia.


O Poema

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem

O
poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Breyner

(1919-2004)

Mais sobre Sophia de Mello Breyner em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner


Um comentário:

Anônimo disse...

Entendo que este espaço esteja reservado à comentários sobre a obra. Mas devo dizer que estou gostando muito de todo conteudo publicado em seu blog. Parabéns!