terça-feira, agosto 28, 2007

Florbela Espanca bebeu até a Mágoa no leite de sua mãe. Mas para ela a maior tortura é não ser poeta, para gritar num verso a sua dor.


A maior tortura


A um grande poeta de Portugal

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura inda é maior.
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha dor!...

Florbela Espanca
(1894-1930)

Mais sobre Florbela Espanca em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

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