terça-feira, julho 24, 2007

Tua boca, teus seios, teu ventre, tudo é dele quando ele bem quer. Só não é dele a tua tristeza, porque ele não a quer, diz Manuel Bandeira à amiga.


Carinho Triste


A tua boca ingênua e triste
E voluptosa, que eu saberia fazer
Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias,
A tua boca ingênua triste
É dele quando ele bem quer.
Os teus seios miraculosos,
Que amamentaram sem perder
O precário frescor da pubescência.
Teus seios, que são como os seios intactos das virgens,
São dele quando ele bem quer.

O teu claro ventre,
Onde como no ventre da terra ouço bater
O mistério de novas vidas e de novos pensamentos,
Teu ventre, cujo contorno tem a pureza da linha do mar e céu ao pôr do sol,
É dele quando ele bem quer.

Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
(A minha tristeza também!...)
Só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira

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