quinta-feira, julho 12, 2007

Para um companheiro preso pelo gosto de pensar, Thiago de Mello acendeu uma estrela de esmeralda e rebeldia. Contra ela, nenhum major jamais poderá.


Estrela de esmeralda e rebeldia


Para o companheiro Joel Rufino dos Santos

Não quero fazer um poema.
Quero é acender uma estrela
para entreter a esperança
do Joel, um companheiro
que está preso pelo bom gosto
de pensar e de dizer,
de contar história nova
cujo crime insuportável
é ser antiga demais
e ser simplesmente a História.

É estrela feita de amor.
Por mais que raios lhe cresçam
desferindo rebeldia,
no seu bojo rolam rios
de ternura e de alegria.
Mas quem diria, Joel,
que um dia o amor desta pátria.
tivesse gosto de fel.

Sirva essa estrela de grito:
um grito de homem, que se ergue
como espada e como rosa.
Sirva de chuva e de sono
no escuro de tua cela,
onde não cabe nem chega
a canção da luz do dia.
Sirva de relva e de aurora
para rumo de meninos.
Sirva de baile e brinquedo,
mas sirva principalmente
de milícia de esmeraldas,
devassando luminosa
as forças turvas do medo.

Sirva assim de cidadela
que te defenda o milagre
de caminhar noite e dia
construindo a madrugada
e amanhecer começando
como a criança que amanhece
dentro do peito do homem.

Parece estrela encantada,
mas é feita de verdade
que nasce, rebrilha e cresce
entra a mão fatigada
e o coração defendido,
entre o pão que não dá
e a esperança que sobra.
Brilha essa estrela
entra a invenção exata do edifício
e os ombros enganados do operário,
entre a missão do pássaro contente
e os vácuos que a traição abre no vento.
Brilha essa estrela
entre o silêncio da fome,
quando punge,
e a alegria da foice,
quando corta.
Nasce e brilha essa estrela
entre o pavor da velhice
e o desamparo da infância,
entre a cinza nos ocos do salário
e a moeda em que se vende, além do mar,
os cantos subterrâneos deste chão.

Entre o sol e o solo,
entre a árvore e a madeira,
entre a sede e o vinho,
entre o cântico e a injustiça,
entre o charco e a amapola,
brilha essa estrela, Joel,
essa estrela que repousa
em tua fronte de negro.

Pode ser que o major diga que não.
Pode o major golpear teu rosto jovem,
erguer o punho torpe da impostura.
Mas contra a primavera dessa estrela
não poderá jamais nenhum major.

Thiago de Mello

Mais sobre Thaigo de Mello em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello

Um comentário:

Unknown disse...

sou louca por esse poema!
sou louca pelas poesias do Thiago de Mello um dia pretendo recitar um poema dele pra ele mesmo pessoalmente.