segunda-feira, agosto 31, 2009

No poema de Manuel Ribeiro, a pobre cortesã do vício aluga o corpo para sustentar. E quando julga a gente que ela está cantando, está mas é chorando.


A prostituta


Nesta viela, onde mal entra o ar,
viceja a pobre cortesã do vício
que, como outro qualquer que tem ofício,
aluga o corpo para o sustentar.

Seus beijos dá-os já sem sacrifício
a todo aquele que a quiser beijar.
E de tantos gemidos abafar
só no seu peito d'ais se encontra indício.

Toda a tristeza que há na vida - e é tanta!
sempre nessa alma um eco vai deixando
e para alívio dos seus males canta.

Mas julga a gente que ela está cantando,
ouvindo a voz gemer-lhe na garganta,
ela coitada, está mas é chorando.

Manuel Ribeiro
(? - 1878)

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