sexta-feira, agosto 21, 2009
Como um perdido de dor, Augusto dos Anjos vai todo dia pedir a sua bem-amada a esmola dum carinho. E a sua vida está unicamente nessa esmola.
A esmola de Dulce
E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem-amada,
A esmola dum carinho apetecido.
E ela fita-me, o olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
- Senhora, dai-me u'a esmola - e estortorada
A minha voz soluça num gemido.
Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.
Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.
Augusto dos Anjos
(1884-1914)
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